A qualidade das pulverizações agrícolas bem como sua eficácia não depende apenas da boa calibração do pulverizador, da correta escolha do bico de pulverização ou do produto fitossanitário a ser utilizado.
A qualidade e eficácia das pulverizações depende, na verdade, do conjunto de todas as variáveis envolvidas no processo. Desse modo, um dos parâmetros essenciais para se obter sucesso no controle de pragas em pulverizações agrícolas é a correta ordem de mistura dos defensivos agrícolas a serem aplicados.
A importância de se seguir uma ordem lógica na hora da adição e mistura dos produtos é essencial para evitar alguns problemas como a incompatibilidade física e química entre os produtos.
Alguns produtos misturados na ordem incorreta podem trazer problemas como:
- Decantação no fundo do tanque:
A decantação de produtos no tanque pode ser, dentre outras possíveis causas, um resultado da ordem incorreta de adição dos produtos no tanque. O acúmulo de produtos no fundo do tanque causa uma desuniformidade da calda de modo que parte da calda possa tornar-se muito diluída com pouca concentração de produtos enquanto a outra parte do fundo do tanque possa ficar extremamente concentrada. A parte da calda muito diluída poderá acarretar em falhas de controle com os defensivos agrícolas enquanto a outra parte, concentrada, poderá causar danos de fitotoxicidez pelo excesso de produto na cultura ou simplesmente causar o desperdício de produto desnecessariamente.
- Formação de cristais ou grume na calda:
A formação de cristais ou grume é outro indicativo de que alguma forma de incompatibilidade aconteceu na calda fitossanitária. Além de indicarem uma possível falha de mistura e homogeinidade química que afetará a eficácia dos produtos a serem aplicados, também indica uma incompatibilidade física que poderá resultar em entupimentos no sistema de pulverização e de abastecimento. Tais entupimentos podem afetar severamente a bomba do pulverizador além de atrasarem a operação (paradas para desentupir, lavar o sistema e etc) sendo os pontos de entupimentos mais frequentes os filtros de bomba, linha, bicos e mangueiras.
- Formação excessiva de espuma
Alguns produtos quando adicionados a calda formam naturalmente espumas e bolhas. O que se deve atentar é quanto a formação excessiva de espuma que pode vir a trazer diversos malefícios à operação. Além da qualidade do defensivo sendo usado, dos ingredientes inertes de cada produto, adjuvantes e da agitação do pulverizador, a ordem de mistura também pode afetar diretamente na formação excessiva de espuma. Dentre os principais problemas associados à espuma, encontra-se o vazamento da espuma do tanque com riscos de contaminação humana e ambiental, a dificuldade na formação do jato de pulverização nos bicos pulverizadores e efeitos negativos com erros de leitura de sensores de vazão e pressão (fluxômetros) dos pulverizadores. A depender da quantidade de espuma, até mesmo a calibração e aferição da vazão dos bicos de pulverização é afetada.
Ordem de Mistura
Infelizmente não existe uma uma ordem de mistura de defensivos agrícolas que vá funcionar todas as vezes e para todas as realidades. Como quase tudo na agricultura, cada caso tem sua especificidade e particularidade. Os produtos químicos utilizados por um produtor podem ser diferentes dos utilizados por outro produtor. A qualidade da água de uma região do Brasil será diferente de outra região; a força de agitação de uma autopropelido poderá ser diferente da agitação de um pulverizador de arrasto e assim por diante. Por isso não se pode criar uma receita de bolo que irá funcionar 100% dos casos. O que se pode, no entanto, é se ter uma noção do que irá funcionar na maioria dos casos e que irá ajudar grande parte dos produtores e aplicadores de defensivos agrícolas.
a) - De modo geral, sempre será recomendado iniciar a adição dos produtos fitossanitários com o tanque já com água, com pelo menos 50 a 70% dele completado por água.
b) - O próximo passo é deixar a agitação do pulverizador, do caminhão calda pronta ou do pré-misturador ligada. Confira AQUI as melhores opções de agitadores hidráulicos para seu pulverizador, caminhão calda pronta e pré-misturador!
c) - Em seguida deve-se iniciar a adição dos produtos por aqueles chamados de especiais, que no caso são aqueles adjuvantes usados para corrigir ou condicionar a água. Um exemplo seria no caso de uma água muito dura (com muita matéria orgânica e excesso de carbonato de cálcio), nesse caso deve-se indicar um adjuvante que faça a correção da água para que o defensivo adicionado não seja afetado e tenha sua eficácia comprometida.
d) - Na sequência deve-se adiciona os produtos sólidos (formulações SG, SP, WP e WG) pois eles precisam de uma diluição especial em relação às formulações seguintes.
e) - Após garantir uma boa homogeneização dos produtos sólidos adicionados à calda, pode-se incluir os produtos com formulações em suspensão (CS, SC e OD).
f) - Continuando na ordem de sequência, vêm os produtos chamados intermediários, que seriam aqueles com formulação SE (Suspo-Emulsão) ainda não muito comuns na maioria dos defensivos agrícolas.
g) - Após a adição de produtos SE, segue-se a sequência de adição dos produtos de formulação do tipo emulsão (EC, EO, EW e ME).
h) - Após a adição das emulsões segue a adição na calda de produtos de alta solubilidade como os de formulação SL (Concentrado Solúvel).
i) - Seguindo a sequência de adição, vem os outro produtos chamados especiais que geralmente são adjuvantes surfactantes, espalhantes e estabilizadores bem como fertilizantes foliares e adjuvantes redutores de espuma.
j) - Por fim, após a adição de todos os produtos no tanque deve completar o mesmo com água.
Lembrando que durante todo o processo de adição a agitação deve estar ligada e de forma constante.
É valido ressaltar também, que a ordem de sequência de produtos apresentada foi desenvolvida com base em conhecimento e experiências pessoais, publicações científicas e técnicas e, conforme comentado anteriormente, deve ser utilizada como guia e não como uma receita para todos os cenários. A melhor receita sempre será aquela baseada na realidade de cada um, com os produtos, equipamentos, água e fatores de cada realidade.
Boa sorte à todos em suas pulverizações!
Para mais dicas e informações sobre pulverização agrícola continue nos seguindo no Blog Spraytech e nos siga nas redes sociais (Facebook, Instagram e Linkedin)
Autor:
PhD. Pedro Henrique Urach Ferreira - Especialista em Tecnologia de Aplicação Spraytech
Confira nossos outros Posts:
Como Escolher Bicos de Pulverização?
Como Avaliar a Qualidade, Cobertura e Depósito da Pulverização?
Comentários
Postar um comentário