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Avaliando a Incompatibilidade de Defensivos Agrícolas no Campo

   Assim como comentamos da importância da ordem de mistura e adição de produtos fitossanitários durante o preparo da calda no Post Anterior (ver em "Ordem de Mistura de Defensivos Agrícolas"), a incompatibilidade de defensivos agrícolas pode ocorrer a depender de uma série de fatores.


Teste da garrafa, uma ferramenta fácil e prática de avaliar incompatibilidades físico-químicas de defensivos agrícolas. Foto: Elevagro, 2013

   Antes de falarmos das principais causas das incompatibilidades entre produtos, é preciso entender quais os tipos de incompatibilidade na mistura da calda que podem ocorrer.


Basicamente existem dois tipos de incompatibilidade:

1) Incompatibilidade Química

   No contexto da pulverização agrícola, entende-se como incompatibilidade química quando dois ou mais produtos são misturados e o produto resultante da mistura apresenta uma incompatibilidade entre os produtos misturados de modo a prejudicar a eficácia agronômica dos mesmos. Nem sempre a incompatibilidade química é perceptível ao olho nu podendo acontecer sem que se a perceba em um primeiro momento e sendo identificada apenas após falha na eficácia do produto e no controle do problema fitossanitário.

   A melhor maneira de saber e evitar a incompatibilidade química em misturas de defensivos agrícolas é seguindo as recomendações de misturas dos produtos por seus fabricantes, realizando análises físico-químicas (pH, condutividade elétrica, viscosidade, tensão superficial e etc) e avaliando os resultados de eficácia agronômica das misturas. Muitas vezes a incompatibilidade química acontece quando há também a incompatibilidade física. Confira AQUI nossos produtos para avaliação da qualidade da sua água e de suas misturas com medidores de pH, condutividade elétrica, temperatura, sólidos dissolvidos, salinidade e mais!

A incompatibilidade química de produtos fitossanitários muitas 
vezes pode passar despercebida aos olhos do produtor rural.
Foto: Fast Radius 

2) Incompatibilidade Física

   Ao contrário da incompatibilidade química, a incompatibilidade física geralmente é percebida ao olho nu. A incompatibilidade física refere-se à misturas de dois ou mais produtos fitossanitários que apresentam uma inconformidade física na mistura. 

   Alguns exemplos de incompatibilidades físicas são quando há a formação de espuma excessiva, formação de cristais, separação de fases, de grume, pasta, floculação e decantação na calda fitossanitária. Tais sintomas de incompatibilidade física podem indicar também uma incompatibilidade química, ou seja, a perda de eficácia agronômica do defensivo agrícola. Além dos prejuízos causados pela perda de eficácia agronômica dos produtos em mistura (herbicidas, inseticidas, fungicidas, nematicidas, fertilizantes e etc) há, também, os problemas relacionados ao acumulo de produto no sistema de pulverização e abastecimento e consequentes falhas operacionais.

   Produtos em mistura que decantam, formam grume, flóculos e cristais tendem a se acumular entre mangueiras, filtros, bombas, tanques e outras partes dos sistemas de pulverização, de mistura e do abastecimento. Além da baixa eficácia de controle por possíveis incompatibilidades químicas, a ocorrência da incompatibilidade física pode diminuir ainda mais a eficácia agronômica pela perda de produtos acumulados e entupidos dentro dos sistemas envolvidos na pulverização agrícola ou até mesmo resultando em erros de leituras de sensores de vazão e fluxômetros causados pelo excesso de espuma no sistema.

   Da mesma forma que a incompatibilidade química, também recomenda-se consultar as bulas dos produtos bem como os fabricantes dos defensivos sobre possíveis incompatibilidades entre produtos em mistura para evitar futuros problemas de incompatibilidade física. Além da consulta com fabricantes, recomenda-se sempre a correta ordem de adição dos produtos durante o preparo da calda, com a adição de água antes da adição dos produtos e com uma agitação constante tanto na hora da mistura quanto durante a operação de pulverização e transporte da calda. Dentre os agitadores de calda dos pulverizadores e caminhões calda pronta, recomenda-se o uso dos agitadores hidráulicos com sistema de Venturi garantindo uma agitação constante e uniforme. Conheça as opções de cornetas hidráulicas com diferentes vazões em nossa loja AQUI

A incompatibilidade física entre produtos fitossanitários pode, na maioria das vezes, ser evitada desde que seguindo as corretas recomendações de mistura de produtos. Foto: Agroefetiva 

Principais Causas de Incompatibilidade-Físico-Químicas

Dentre as principais causas das incompatibilidades vistas no campo podemos citar

1 - Ordem de adição incorreta no tanque

Conforme comentamos anteriormente, a ordem é imprescindível para minimizar as chances de incompatibilidades no tanque.

2 - Pouca ou má agitação 

A má agitação no tanque do pulverizador/misturador/caminhão calda-pronta no momento da mistura e após a mistura (durante a operação e em momentos de parada - ex: paradas para almoço, por chuva, por manutenção e etc).

3 - Baixo volume de aplicação

Todos os produtos químicos têm uma solubilidade característica. Ao se abaixar o volume de aplicação excessivamente, por exemplo, de 120 L/ha para 50 L/ha, deve-se atentar ao risco dos produtos fitossanitários não se diluírem suficientemente em pouca quantidade de água.
Tal problema tem sido bastante frequente ultimamente em pulverizações aéreas com drones. Produtores que antes utilizavam 5 produtos em aplicações terrestres a um volume de aplicação de 100 L/ha, por exemplo, estavam tentando aplicar os mesmos 5 produtos via drone a um volume de aplicação de 10 L/ha, ou seja, com uma calda 10 vezes mais concentrada.

4 - Uso de produtos incompatíveis

Mesmo que todas as etapas sejam feitas corretamente (ordem de adição, agitação, volume de água adequado e etc), ainda assim o risco de um produto A ser incompatível com outro produto B pode existir. Consultar o fabricante e verificar com engenheiros agrônomos, consultores e especialistas pode ser uma alternativa. Outra forma importante de evitar o uso de misturas incompatíveis é testar ela em pequena escala através do teste da garrafa.


Exemplos de incompatibilidades entre herbicidas. Marcações com X indicam incompatibilidade e marcações com   indicam compatibilidade. Fonte: GRDC (2008)

 Exemplos de incompatibilidades entre herbicidas e fungicidas, fertilizantes e inseticidas. Marcações com X indicam incompatibilidade e marcações com   indicam compatibilidade. Fonte: GRDC (2008)

5 - Não realizam o teste da garrafa

O teste da garrafa é uma forma fácil, rápida e barata de avaliar se uma ou mais misturas podem apresentar algum tipo de incompatibilidade físico-química no campo. O teste constitui-se de usar um recipiente, podendo ser uma garrafa PET, um frasco ou jarra, por exemplo, para simular o tanque do pulverizador ou do caminhão calda-pronta. É uma forma simples de avaliar se dois ou mais produtos irão apresentar alguma incompatibilidade. Basta adicionar água no recipiente e adicionar os defensivos agrícolas na mesma ordem e proporção que seriam adicionados ao pulverizador. 

Exemplo:

a) Coloque 2 litros de água na garrafa pet.

b) Adicione o primeiro defensivo (produto sólido WG) na mesma proporção que iria usar (se a dose dele é 500 gramas em 1 hectare, e estou aplicando 100 L por hectare, então a dose dele em 2 L de água é de 10 gramas).

c) Adicione o segundo defensivo (produto em emulsão EC) na mesma proporção que iria usar no tanque.

d) Adicione o terceiro defensivo e assim por diante.

e) Após adicionar todos os produtos, adjuvantes e fertilizantes que venha a testar, feche a garrafa e agite bem.

Após agitar bem a garrafa deixe-a em repouso em um lugar e avalie se, após a agitação, houve a formação excessiva de espuma, se houve algum tipo de decantação, floculação, cristalização ou a formação de grume. Após 30 minutos, agite a garrafa novamente e avalie se houve alguma alteração. Se quiser, faça esses avaliações quantas vezes forem necessárias e em quanto tempo achar melhor para melhor representar sua realidade.

Exemplo do acompanhamento de duas misturas com ordens de adição diferentes avaliando
 as caldas antes e após 18 horas da mistura dos produtos. Fonte: University of Georgia (2018)

Uma vez levando em conta todos esses parâmetros, as chances das misturas de calda com defensivos agrícolas serem afetadas por incompatibilidades físico-químicas serão drasticamente reduzidas.

Esperamos que todos tenham excelentes resultados em suas pulverizações e que tenham uma ótima safra pela frente!

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Autor:

PhD. Pedro Henrique Urach Ferreira - Especialista em Tecnologia de Aplicação Spraytech


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